sexta-feira, 4 de maio de 2007

Homem-Aranha 3

Homem-Aranha 3 (Spiderman 3, EUA, 2007)
Aventura - 140 min

Eu geralmente não confio facilmente em minhas primeiras impressões. Aquele lema de que é esta impressão a que fica n
ão rola comigo. Em termos de cinema, todos têm expectativas a respeito do filme que vão ver. E em filmes como Homem-aranha 3 era de se esperar que minhas primeiras impressões não fossem consistentes, frente à alta expectativa que me acometeu. Felizmente, não foi o que ocorreu.

Uma sessão emocionante é o que se deve esperar do filme. Seja a emoção de alta adrenalina dos vistosos efeitos visuais, ou seja a emoção de bom drama do esforçado roteiro. Na verdade, rola uma química entre esses dois lados, tão forte principalmente em seu clímax, que acabamos suavizando os efeitos não tão espetaculares de certas cenas e umas falhas bem viciosas de condução e construção no roteiro. Mas isso é efeito de filme visto pela primeira vez. Como tenho o costume de rever e rever esses filmes, os defeitos sempre vão se avolumando. Ainda bem que guardo comigo parte das sensações da primeira assistida, nesse caso extremamente emocionante.

O diretor Sam Raimi soube se aproveitar das histórias anteriores e dos quadrinhos, criando uma enorme rede cheia de elos que culminam nos clímax. Se bem que às vezes esses elos são tão rapidamente concluídos para dar lugar a outros, dando uma sensação episódica, que o filme se torna longo até chegar na parte mais ágil do filme, na im
inência do clímax. Essa teia de elos se avoluma tanto que mesmo que chegue a momentos emocionantes, a necessidade de se chegar a algum lugar para cada elemento do vasto elenco parece mais um vício. Além disso, diversos destes são usados aqui, como flashbacks dentro do filme, resultado ou da falta de confiança no discernimento do espectador ou o discernimento próprio da citada grande extensão do filme. Por outro lado, já falei da alta dose de emoção que Raimi soube intercalar com a ação, mas não se pode esquecer da boa dose de humor em diversas cenas isoladas, que justamente existem para aliviar o drama, principalmente as do editor J. J, Jameson, sempre hilárias. Como é um filme blockbuster, o diretor tem a sábia decisão em termos financeiros de causar momentos de euforia com o humor, afinal a maioria dos pagantes foi para se divertir. Por isso, ressalto ainda mais porque foi tão bom ver a extensão do drama desse filme. Um drama de emoções complicadas que se estabelece de forma simples e eficiente. Os atores ajudam a empatia do espectador, com destaques para Thomas Haden Church, eficiente como o Homem-areia (numa história que acaba não tão bem colocada na trama), Kirsten Dunst, melhor do que nunca como Mary Jane, e claro Tobey Maguire, o aranha mais complexo de todos. Passando por momentos de elevada auto-confiança, para a arrogância e a redenção, o personagem-título só faz crescer diante do espectador.

A história sobre sucessivos pontos sem retorno que não impedem que o mais tênue e forte sentimento que move as pessoas prevaleça. Por esse ângulo, esse amor faz esquecer das cenas mais desnecessárias ou mesmo extensas demais (caso de algumas cômicas em que o sorriso já fica forçado no fim da cena). E foi esse amor que me levou a uma experiência muito emocionante no volumoso clímax do filme. Volumoso porque são tantas tramas que se unem que poderia dar bagunça. Entretanto, vêm junto com elas diversas emoções que afloram de cada canto da tela e que culminam ao som da já conhecida trilha sonora de Danny Elfman (que não voltou para esse filme) num excelente final. Por trás desse super-herói, podemos sim ver um ser humano, que trava batalhas ainda mais intensas para resolver o que tem dentro dele mesmo. Seja a redenção, o arrependimento ou a aceitação, o Homem-aranha fez de seus tempos mais difíceis, o melhor momento para crescer ainda mais como homem. E os silêncios das cenas finais ilustram isso. Aliás, por falar no final, virou moda nos blockbusters um nascer ou pôr-do-sol (nada contra, mas o de King Kong era bem mais magnífico) que resolvem surgir do nada, numa velocidade estupenda. Licença poética para os efeitos visuais? Não vamos nos aprofundar nessa discussão.

Apesar de sua extensão por causa de tantas histórias, a maneira como o lado mais emocional é abordado é um absoluto triunfo do filme, de Raimi e de seus atores. A intensidade e até profundidade desse lado é que ficam com o espectador, mesmo com o bombardeio de ótimos efeitos visuais. Todos nós deveríamos aprender com o Homem-aranha nesse conto de humanidade.
Cotação: 7/10
Thúlio Carvalho