sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Quase cinco dias depois

Então, ele passou. O Oscar 2008 já é história. Ainda bem que a história é bastante agradável no que concerne as premiações em si. A cerimônia em si é que foi claramente prejudicada pela longa greve dos roteiristas, transformada em um show feito às pressas.

A lista com os vencedores foi postada no dia da cerimônia. Em minhas últimas previsões, acertei 17 das 24 categorias, o que eu ainda transformaria em 16 das 20 principais, o que está de bom tamanho (o 17 é por causa de um chute bom em documentário).

Já revi a cerimônia ou trechos dela algumas vezes desde aquele longo domingo. Longo porque era um dia de tensão e preocupação. Esta fica a cargo das provas e seminários que tive no decorrer dessa semana, razão pela qual atribuo esse meu atraso de quase cinco dias. Além disso, estava voltando de viagem de Salvador, para onde fui na sexta e vi 4 filmes oscarizáveis: Sangue Negro, Elizabeth: A era de ouro, Senhores do crime, e Onde os fracos não têm vez. E 3 deles carimbaram a estatueta no currículo. Já em Aracaju, vi mais dois filmes, os quais nem sequer conseguiram a estatueta: O escafandro e a borboleta, e Across the Universe.

Então, ia começar a cerimônia. Estava apreensivo. A maldita prova no outro dia, a indecisão para atriz coadjuvante, será que a canção de Once (Falling Slowly) perderia, o tão comentado Persépolis derrubaria o favoritíssimo Ratatouille, iria Marion Cotillard virar a segunda atriz em filme de língua estrangeira a levar o Oscar de principal, iria a Academia deixar Paul Thomas Anderson (realizador de Sangue Negro) apenas um multi indicado a sair de mãos vazias? Tudo isso me preocupava muito. A seguir descrevo, então, a premiação de cada categoria:

A cerimônia já começou com surpresa, já que não esperava o prêmio de Figurino para Elizabeth: A era de ouro. Imaginava que estava entre Sweeney Todd (que levara o prêmio do sindicato) e Desejo e Reparação (minha escolha, e de muita gente).

O Oscar de Animação não teve surpresas mesmo: Ratatouille confirmou o extremo favoritismo que havia conquistado desde sua estréia nos EUA, onde acolheu críticas excelentes, figurando não só como o melhor filme de animação do ano, como um dos melhores filmes de qualquer gênero.

Justiça foi feita. Piaf - Um hino ao amor ganhou o Oscar de Maquiagem. Depois de esnobadas consideráveis em cima de Sweeney Todd e Hairspray na hora das indicações, o filme que mais merecia levou o reconhecimento, por transformar a bela Marion Cotillard em Edith Piaf, em diversas fases de sua saúde.

Para mim, o único prêmio desmerecido da noite. A Bússola de Ouro levou o Oscar de Efeitos Visuais. Frente aos indicados, era o mais fraco. Mesmo não tendo o conhecimento da área, muitos comentaram que não foi o melhor, mas também desmerecer demais é ruim, já que os efeitos funcionam. Mas nada como os seus concorrentes: Piratas do Caribe: No fim do mundo era um show de efeitos (ou uma bagunça, segundo as críticas), e Transfomers era o favoritíssimo dessa categoria. Eu não gostei desse filme, mas não hesitaria em instante algum em entregar esse Oscar a ele, já que é nesse quesito que o filme impressiona.

Aqui o nome prevaleceu sobre a escolha do sindicato dos diretores de arte. A Bússola de Ouro e Sangue Negro haviam levado o prêmio do sindicato para filme de fantasia e época respectivamente. Quem acabaou levando o Oscar de Direção de Arte foi o famoso Dante Ferreti, por Sweeney Todd: O barbeiro demoníaco da rua Fleet.

Javier Bardem ganhou o prêmio de Ator Coadjuvante pela sua imersão no psicopata Antom de Onde os fracos não têm vez. Era óbvio, afinal praticamente todos os outros prêmios foram dele. Mas mesmo assim, não ficaria triste se visse Tom Wilkinson (Conduta de Risco) ou principalmente Casey Affleck (O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford) levando a estatueta. Como não adorar esse prêmio?

Curta-Metragem foi The Mozart of Pickpokets, e Curta-Metragem de Animação foi Peter & the Wolf. Sem comentários, afinal essas são as categorias inacessíveis do Oscar, e imprevisíveis.

Então, chega o momento da maior indecisão da noite. E nem a vencedora acreditou. A cara de Tilda Swinton, quando foi anunciada como vencedora de Atriz Coadjuvante foi impagável, e seu discurso foi ótimo, anunciando que daria seu Oscar a seu agente pois sem ele ter chegado à América seria difícil. Merecido, com certeza. Mas pássaros em dizem que Blanchett era imbatível em termos de atuação (não vi o filme ainda). Dizem que sua derrota é devido ao fato de que com dois Oscars de coadjuvante (ela venceu por O Aviador) seria mais difícil ganhar um de principal. Francamente, odeio essa linha de raciocínio. Perfeita essa mulher!

E os Coen levaram Roteiro Adaptado por Onde os fracos não têm vez. Óbvio, mas ao mesmo tempo repressor das esperanças de ver Paul Thomas Anderson levar um merecido prêmio pelo seu Sangue Negro.

Edição de Som foi, como previ, para O Ultimato Bourne, enquanto muitos acreditavam ser Transformers o favorito. Bourne é um filme de ação perfeito, o blockbuster do ano, digamos assim. Merecidíssimo, mas sem desmerecer os concorrentes, já que nessas categorias de som, eu não posso opinar com bom embasamento.

Som foi, não como previ, também para O Ultimato Bourne. Nossa, hein, gostaram mesmo do filme. Eu acreditava na vitória de Onde os fracos não têm vez, que levara o prêmio do sindicato, e também porque para mim era o mesmo que dar o prêmio de trilha sonora, já que não há trilha no filme, apenas sons, muito eficientes em cada utilização, diga-se de passagem. Destaque para mais uma derrota de Kevin O'Connel, de Transformers, que já foi indicado 14 vezes e nunca ganhou.

Finalmente o momento mais emcionante da noite: Marion Cotillard leva o prêmio de Atriz por Piaf - Um hino ao amor. Meus olhos se encheram de lágrimas e me confirmaram que eu estava me preparando para uma vitória de Julie Christie apenas porque tinha gostado do trabalho dela também (ótima), mas como não ocorreu percebi que não dava para esse prêmio ser de outra. Cotillard dá um show tão eficiente que soaria como uma das maiores injustiças. E tinha medo por causa da xenofobia, já que apenas Sophia Loren havia ganhado o prêmio por uma atuação em língua não-inglesa. Cotillard entra nesse hall.

"Clean Sweep" para O Ultimato Bourne. Ou seja, levou todos os prêmios a que foi indicado, juntamente com esse de Montagem. Não ousaria nunca dizer que foi desmerecido, aliás era realmente um trabalho primoroso. Ver Sangue Negro levando aqui não teria me desanimado tampouco.

Filme Estrangeiro foi para o óbvio: O Falsário, da Áustria, que recebe assim seu primeiro Oscar. O tema do filme? Envolve Segunda Guerra. Conclusão: a categoria se repete mais uma vez.

Canção Original. Talvez esse fosse o meu maior medo da noite. Não sei o que faria se visse Falling Slowly, do magnífico filme Once, perder para seus concorrentes. Não minto que achava So Close e That's How You Know, ambas do filme Encantada, boas canções para o filme, mas nada se comparava a Falling Slowly, ou qualquer outra canção do mesmo filme. Os astros do filme, que escreveram as canções, subiram ao palco para agradecer em nome do cinema independente, feito por aqueles que amam o cinema. Empata com o prêmio de melhor atriz como o melhor da noite.

Robert Elswit levou o prêmio de Fotografia por Sangue Negro. Não me deixa triste de jeito nenhum, também porque era o único jeito de Sangue Negro levar mais de um Oscar. Mas não posso mentir que torcia lá dentro por Roger Deakins, que estava duplamente indicado esse ano, mas não por Onde os fracos não têm vez, e sim pelo maravilhoso O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford. Maravilhoso mesmo, recomendo muito. Mas eu ficaria feliz se qualquer um levasse o prêmio, todos merecedores.

E praticamente o prêmio mais óbvio de Desejo e Reparação serviu como consolação. Dario Marianelli levou o prêmio de Trilha Sonora pelo filme. Obviamente a melhor trilha do ano, maravilhosa. Há quem diga que a inovadora trilha de Sangue Negro, que não foi indicada devido a problemas nas regras de aplicabilidade, era melhor, mas eu prefiro essa vencedora mesmo.

Documentário em Curta-Metragem foi para Freeheld, enquanto o prêmio de Documentário foi para Táxi para a escuridão, curiosamente o único que consegui ver. Mais duas das categorias imprevisíveis e (quase) inacessíveis.

Diablo Cody levou o Oscar de Roteiro Original por Juno. Merecido? Não vou desmerecer, mas eu daria o prêmio a dois filmes antes deste: Ratatouille e Conduta de risco, nessa ordem mesmo. E isso porque não vi os outros dois indicados, razão pela qual Juno pode ainda virar o roteiro a que eu não entregaria o Oscar, dentre os cinco. Mas o buzz em cima do filme estava altíssimo devido a bilheteria e também devido a exposição da própria roteirista, que era stripper e agora é uma vencedora de prêmios como roteirista. O marketing foi pesado nessa imagem.

Daniel Day-Lewis. Repito, Daniel Day-Lewis. Só mais uma vez, Daniel Day-Lewis. Justiça foi feita, e não tinha como não ser assim. Eu ouso dizer que esta foi a mlehor atuação que meus olhos presenciaram de filmes dessa última década. Eu me arrepio só de lembrar do personagem Daniel Plainview interpretado unicamente por esse grande ator, definitvamente o meu ator vivo predileto atualmente (Jack Nicholson, teve que descer um degrau devido a certos eventos recentes, e Marlon Brando, Deus já chamou). Felicidade, ótimo ator!

Diretor. Ou melhor, e obviamente, diretores: Joel e Ethan Coen levam seu primeiro Oscar de direção por Onde os fracos não têm vez. Já deixei clara minha preferência por Sangue Negro, e por Paul Thomas Anderson, seu ótimo diretor. Mas Onde os fracos não têm vez é um excelente filme também. Aqui, ficaria felicíssimo se Julian Schnabel levasse um único Oscar para o magnífico O escafandro e a borboleta, mas ele teve que se contentar com o Globo de Ouro mesmo.

E finalmente, não houve surpresas para a categoria de Filme: Onde os fracos não têm vez. De não ter visto Conduta de Risco, e principalmente Juno levando o prêmio, já me deixa numa esfera de felicidade satisfatória. Torcia em meu interior emocional por Desejo e Reparação, e no meu interior cinéfilo, admirador do bom cinema por Sangue Negro. Mas o meu lado dirigido pelo óbvio já sabia e não me deixaria ficar triste com essa vitória do filme dos Coen, um suspense de ação e drama que é absolutamente perfeito, mesmo com seu final que desagrada a muitos.

Enfim, a contagem final (das 20 principais categorias):
4 - Onde os fracos não têm vez
3 - O Ultimato Bourne
2 - Sangue Negro; Piaf - Um Hino ao Amor
1 - Conduta de Risco; Juno; Ratatouille; Desejo e Reparação; Sweeney Todd: O barbeiro demoníaco da rua Fleet; Elizabeth: A era de ouro; Once; A bússola de ouro; O Falsário

Sobre a cerimônia, tenho algumas afinetadas: Amy Adams quase foi forçada a participar de um dos momentos mais constrangedores do Oscar, o que evitou devido à sua habilidade e carisma, já que interpretou uma das canções indicadas sem ao menos terem preparado um cenário ou um figurino diferente para incorporar o espírito da cena do filme em que canta a música. As outras canções não tiveram esse problema. Isso me deixou um pouco irritado, e olha que foi logo no começo da cerimônia, só para se somar ao meu estresse pela prova do dia seguinte. Além disso, a orquestra estava um pé no saco, levantando a música quando as pessoas ainda estavam fazendo seus agradecimentos, chegando ao cúmulo (aqui mexeu pessoalmente comigo) em que cortaram a voz de Marketa Irglova, vencedora pela canção de Once, de quem a gente só pode ler um 'Thank You ' em seus lábios. Ainda bem que existia John Stewart, que assim que voltou dos comerciais chamou-a ao palco para fazer seu lindo agradecimento, de acreditar num sonho.

Mas momentos inspirados também aconteceram, como a piada das grávidas, da Cate Blanchett que interpreta de tudo, da 'Academia também indicar filmes ruins como Norbit', dentre outros pequenos momentos. Mas num geral, a cerimônia do ano passado deixou saudade pela sua maior riqueza em entretenimento e organização, tudo que eu esperava numa cerimônia que marcava os 80 anos do Oscar.

Thúlio Carvalho Morais

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Vencedores do Oscar 2008

Os vencedores da 80ª Edição dos Academ Awards (Oscar 2008):

Melhor Filme
Onde os Fracos Não Têm Vez

Melhor Ator
Daniel Day-Lewis, Sangue Negro

Melhor Atriz
Marion Cotillard, Piaf – Um Hino ao Amor

Melhor Ator Coadjuvante
Javier Bardem, Onde os Fracos Não Têm Vez

Melhor Atriz Coadjuvante
Tilda Swinton, Conduta de Risco

Melhor Direção
Joel e Ethan Coen, Onde os Fracos Não Têm Vez

Melhor Roteiro Original
Juno, Diablo Cody

Melhor Roteiro Adaptado
Onde os Fracos Não Têm Vez, Joel e Ethan Coen

Melhor Filme de Animação
Ratatouille, de Brad Bird

Melhor Fotografia
Sangue Negro, Robert Elswit

Melhor Trilha Sonora Original
Desejo e Reparação, de Dario Marianelli

Melhor Montagem
O Ultimato Bourne, Christopher Rouse

Melhor Direção de Arte
Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

Melhor Figurino
Elizabeth: A Era de Ouro

Melhor Maquiagem
Piaf – Um Hino ao Amor

Melhor Canção Original
"Falling Slowly", Once

Melhor Edição de Som
O Ultimato Bourne

Melhor Som
O Ultimato Bourne

Melhores Efeitos Visuais
A Bússola de Ouro

Melhor Filme Estrangeiro
The Counterfeiters (Áustria)

Melhor Documentário
Taxi to the Dark Side

Melhor Documentário – Curta-Metragem
Freeheld

Melhor Curta de Animação
Peter & the Wolf

Melhor Curta-Metragem
Le Mozart des Pickpockets (The Mozart of Pickpockets)

Thúlio Carvalho Morais

sábado, 9 de fevereiro de 2008

O Suspeito

O Suspeito (Rendition, EUA, 2007)
122 min - Drama

Como comentário rápido, falaria apenas que o filme superou expectativas. Mas esse é um comentário apenas simplista, e também fruto de uma campanha pré-Oscar que não deslanchou, ou seja, o filme era puro material de Oscar, mas quando foi visto, a galera (leia-se, crítica) não viu isso tudo.

Realmente, não é aquele filme excelente, original, inovador. O filme apresenta porém integridade em sua simplicidade. A estória não é complicada (não os temas em si) assim como a de um (bastante superior) Syriana - A indústria do petróleo, mas envolve o quanto pode justamente por permitir um conhecimento das personagens.

Escrevendo sobre esse envolvimento, na verdade, veio um porém encontrado no quesito atuações. A recente vencedora do Oscar Reese Witherspoon não faz muito no filme, apenas não se deixa cair, exceto pela cena final em que para mim pecou pela inexpressividade (sem falar na criança que faz seu filho). Boa parte do elenco é apenas normal. Entretanto, assim que vi Peter Sarsgaard no filme, me deu uma sensação de saudade, aquela que se sente de um bom ator quando já fazia um tempinho que não o via atuar e, novamente, bem. Streep é quem sempre dispensa comentários, afinal com ela não sei se ela está sempre ótima ou se já comecei a ser completamente parcial quanto a ela; e sei que a primeira alternativa é a mais correta.

Há uma pequena surpresa no clímax do filme, que francamente não estava esperando. Depois que ela passa, há um sentimento de exagero na tensão mostrada em uma das sequências concomitantes. Além disso, é apenas nesse clímax que surge uma resposta para a necessidade de contar a estória de certos personagens. Mas a resposta verdadeira talvez estivesse na real intenção do filme: denúncia. Ao assistir a filmes como esse, sobre terrorismo e efeitos do 11/09, temos que ter em mente que um de seus maiores objetivos é justamente esse. E se há algo que o filme nos leva a pensar é em como é tudo tão acobertado por enormes tubarões que encenam sempre para os pobres peixinhos.


Thúlio Carvalho