terça-feira, 8 de julho de 2008

Crônica do cinema contemporâneo

O cinema! Lugar tão bem projetado por inteligentes arquitetos e engenheiros para promover o máximo do conforto e o melhor do prazer que só uma sessão cinematográfica pode oferecer ao seu modo. Os gerentes, os distribuidores, os lanterninhas, os faxineiros, os seguranças; todos interpretam figuras perpetuadoras dessa situação, agindo em harmonia para atingir o alvo, ou melhor, o espectador. Tudo bastante harmonioso se colocado assim nessa, digamos, panorâmica.

Harmonia é comprar um ingresso a preço justificável, ser bem atendido com um caloroso "Boa tarde!" na entrada da sala, encontrar cadeiras e salas bem cuidadas, um som que agrade aos ouvidos, uma platéia que aproveite o filme juntamente com você.

O problema é que isso agora é só teoria mesmo. Já houve tempos em que o preço do ingresso era menos que 50% o valor do de atualmente. Um seco "Boa noite!" é o mesmo que o silêncio. Poltronas que não ficam quietas no lugar, pendendo para trás ou para frente, entoando irritantes barulhos não deveriam ser toleradas. A falta do apoio para o braço ou mesmo o excesso de manteiga de pipoca de outra pessoa na mesma são lamentáveis. Um filme mal posicionado no anteparo ou mesmo um som baixo ou estridente demais são o cúmulo da falta de respeito nesse ramo. E para piorar, o fator que não está inerente à estrutra do complexo de cinemas: o espectador.

Todos temos nossos valores e nossas criações. A paz é simplesmente um bom entendimento e boa convivência dos mesmos. Em se tratando de cinema, poderia dizer que a paz realmente é difícil de ser obtida afinal nem mesmo em uma sala destas, as pessoas conseguem respeitar essa convivência ou expressar esse entendimento. O pé na poltrona que empurra a pessoa da frente. O grupo de amigos que deliberadamente acreditam que fazer barulho é o ponto alto da sessão. O senhor que atende ao celular em sua poltrona e não hesita em conversar em tom de voz inalterado. O jovem que abre o celular durante o filme para fazer seja lá o que for mas que emana toda aquela luz no rosto das pessoas que ficam atrás (o cinema é escuro, então realmente atrapalha). A mãe que leva o filho de colo para que o mesmo atrapalhe não só a sessão de todos, mas também a dela mesma. O pai que leva o filho gripado que sem noção de higiene ou saúde coletiva tosse abertamente para todos sem levar a mão à boca, enquanto o responsável nada faz (ou melhor, pergunta bem alto "Quer pipoca?"). A própria criança que não fica quieta no cinema, fala sem parar e não tem noção (por falta de ensinamento) de que não está em casa. A senhora que dorme e começa a roncar bem alto, levando a risadas da platéia, numa forma de desdirecionamento total do filme (e com direito a câmeras para filmar o evento). Os grupos de adolescentes que de repente começam a fazer disputa de qual deles incomoda mais.

A harmonia talvez só esteja mesmo na tela (isso se o filme a apresentar, o que nem tem sido tão frequente assim). Os tempos parecem se encaminhar para uma difícil involução do respeito e do comportamento social. Imagine só os adolescentes de hoje como pais de pirralhinhos barulhentos no cinema daqui a dez ou vinte anos. É de se ter medo que o cinema poderá se tornar um lugar invisitável para quem nele sempre soube coexistir.

Encontro-me, porém, perdido nesse fim de texto, afinal não consigo terminar um de forma tão pessimista assim. Foi apenas um desabafo de alguns eventos ocorridos no dia de hoje e em outros dias. A esperança se encontra justamente no fato de que não são todas as sessões que são tão deturpadas, o que é óbvio - e um alívio. O Cinema com 'c' maiúsculo deve ser apreciado na tela grande mesmo. Só basta que o público se auxilie na otimização dessa apreciação tão singela e individual.

Thúlio Carvalho

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