sábado, 31 de março de 2007

Turistas

Turistas (Idem, EUA, 2006)
Suspense - 94 min

Uma produção cinematográfica tem diversos meios para se destacar. Polêmica é um deles que o quanto mais explorado melhor, podendo tornar-se maior que o próprio filme. Esse Turistas encontrou gratuita publicidade na polêmica de retratar o Brasil como um lugar em que coisas ruins acontecem. Mas ela revelou na verdade um certo cinismo bem brasileiro.

Quase não falei do filme nesse parágrafo inicial. Toda essa repercussão só fomentou mesmo a curiosidade de conferir esse filme fraco, vicioso, repetitivo. Um grupo de turistas estrangeiros de países diferentes estão viajando de ônibus (sem ar condicionado e com um motorista "altamente prudente") quando acontece um acidente e eles ficam na estrada a espera de outro ônibus. Uma praia com um barzinho agradável ali perto revela-se a saída desse sufoco de turista. Mas sufoco eles não enfrentaram ainda, literalmente. Começa então a sequência de eventos que transformam a viagem em pesadelo. Tais eventos cadecem de originalidade e para piorar, uma sequência paralela com os malfeitores da trama altera o suspense por seu caráter mais humorado que temido. A previsibilidade é gritante em diversas cenas de tensão, o que as torna mais leves. Devo até ressaltar que não é para qualquer um as cenas de "operações cirúrgicas" do filme, afinal elas até agradam pelo realismo e falta de censura, muito embora aconteça simultaneamente a um discurso vilanesco bem fraco sobre revolta contra os países mais ricos que vêm e roubam o que é nosso.

Voltando ao cinismo brasileiro, a mídia tentar prestar boicote ao filme por seu caráter pernicioso à imagem do país foi um exemplo absoluto dele. Quem acredita que o Brasil é o paraíso é altamente desatualizado. Essa tal imagem que o país tem lá fora é fortemente atrativa por natureza, mas realidades como o tráfico começam a virar notícias maiores. Claro que o filme explora algo para puro entretenimento, mas os créditos iniciais do filme são interessantes ao diminuir justamente o status de paraíso de nosso país, já que os turistas não aguentam mais encarar a violência quando vêm para cá. E se não foi tão ruim ter utilizado o Brasil como cenário, não digo o mesmo para os figurantes, que quando em cena representaram os momentos mais toscos da produção. E o que dizer então da revolta índio contra patrão em certo momento da trama? Os roteiristas devem ter achado bem bolado colher algo de nossa história para pôr no filme. Bem, eles também acham que têm talento. A trilha sonora vem entremeada com canções brasileiras, a última delas mixada com o desfecho de forma duvidável, nada condizente com a trama. Nem Melissa George falando um português delicioso de ouvir salva esse filme, de fotografia simplesmente preguiçosa, ao utilizar enquadramentos típicos do gênero.

O Brasil faz parte da estória, explorando as praias, as festas, o funk, mais belezas naturais, e até a prostituição. Tudo jogado na trama para parecer que o projeto se preocupou com o país. Nesses tempos de Hollywood, fica claro que o suspense era a meta principal, às custas de uma publicidade gratuita numa polêmica que me escancarou um outro lado brasileiro.

Cotação: 3/10
Thúlio Carvalho

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